Aos 20 de janeiro
de 1924, no Distrito Telegráfico (Os Correios), o Sr. Elesbão de Castro Velloso
(engenheiro), reuniu em valia uma idéia inédita com outros companheiros também
de engenharia. Criar a primeira entidade de Radiotelefonia na
cidade de Fortaleza.
Chamou-se Rádio
Clube Cearense, com estatuto aprovado em 15 de fevereiro do mesmo 24, e
cuja diretoria fora assim composta: Presidente: Engº Elesbão de Castro Velloso;
Secretário: Dr. Carlos da Costa Ribeiro; Tesoureiro: Engº Antonio Eugênio
Gadelha.
Os
demais membros efetivos do Clube eram: Desembargador Carlos Livino de Carvalho,
Carlos Mesiano, Francisco Riquet Nogueira, Clovis Meton de Alencar, Augusto
Mena Barreto, Mister Watson e Henrique Soares. Entre os outros associados e
fundadores, constaram os nomes de Anthony de Alencar Santiago (técnico
pioneiro), Hit Moraes e Oswaldo Fernandes.
A
diretoria do Rádio Clube Cearense queria colocar para
funcionar com rapidez uma pequena estação emissora de 3 watts, para a operar
experimentalmente ainda em março. Segundo técnicos da época, a potência deveria
ser de pelo menos 30 watts. A receptora de 3 válvulas com circuito TSE e,
acompanhada de alto-falante Ericsson supertone, fora instalada na sede da
sociedade que, ficava em um salão da Phênix Caixeiral na época, esquina das
ruas Gal. Sampaio com Guilherme Rocha, na antiga Praça Marquês do Herval (atual
José de Alencar).
Os
receptores existentes em Fortaleza eram de propriedade dos associados Clovis
Meton de Alencar, cujo circuito de reação com duas válvulas era por ele
fabricado, tal qual o de Alfredo Euterpino Borges, fruto também de trabalho
artesanal. Essa emissora não chegou a entrar no ar.
Como
nova tentativa no centro do salão, numa mesa especial e, estava ali o primeiro
receptor importado. Era de fabricação francesa, com um imponente auto-falante
de corneta. O momento do seu descortinamento foi saudado por prolongada salva
de palmas acompanhado do hino nacional.
Constara
o receptor de uma caixa de tamanho descomunal, de madeira e um painel de
ebonite com 4 “dial”, cheia de algarismos com legendas indicadoras em francês,
e na porta exterior por cima, encaixadas em soquetes, 4 válvulas Lee
Forest, de tamanho grande semelhante a uma garrafa de 600 ml.
Foi
feito o primeiro procedimento e ante a expectativa e ansiedade de todos, as
experiências que às vezes iam até altas horas se prolongaram e, o aparelho nem
sequer chiava.
Após
toda encenação e dias depois, chegaram a conclusão de que uma válvula não
acendia, pois, estava queimada. Substituída por outra que estava numa caixa de
reserva que acompanhava o aparelho, verificaram os “Técnicos” posteriormente,
que os fios estavam invertidos.
Com
muita assistência, foi feita a ligação correta; o bicho apitou e alto! A
alegria foi geral, com satisfação estampada em todos.
Henrique
Soares, tomando os controles, iniciou uma série de apitos em várias tonalidades
e, isso foi prolongado até que cessou tudo. As baterias estavam esgotadas!
Novas
decepções e novos experimentos surgiram nos dias seguintes e enquanto isso, os
comentários e as opiniões Técnicas eram as mais desordenadas, predominando, no
entanto que a causa primordial era a antena inadequada.
Em
uma bela noite e já muito tarde, resolveram ir à casa de Henrique Soares no
Jacarecanga, levando o “Bicho”, para experimentar uma das cinco antenas
existentes, e vários “Terras” construídos de acordo com as instruções. O
aparelho fora conduzido com apoio de duas tábuas. Todos apostavam no alto
conceito técnico de Henrique! Referido equipamento foi levado à pé para
evitar trepidações. O Mesiano não quis retirar as válvulas receando trocá-la de
lugar!
Em
um dia ignorado, mas já no final de 1924, o aparelho funcionou. Foi no Centro
Artístico Cearense, na Tristão Gonçalves, local cedido pelo Cel. Antônio Diogo
de Siqueira.
Foi
uma apoteose pra época. Quanta nitidez o volume! Uma musica suave estava sendo
irradiada, não se sabia de onde! Chamaram o Cel. Diogo e família, e os
telefones não pararam! Apareceu gente de toda parte. Ouviu-se musicas até o
esgotamento da bateria. Ficou ajustado que ninguém mexeria em nada até a noite
seguinte. Todo Clube, compareceu as 19. h e de imediato passaram a ouvir a
mesma estação. Era uma questão de sintonia. Os técnicos ainda desconheciam o
manejo ou ajuste dos “Diais”.
Alguém
perguntou: “de onde é essa musica”? Ante o silêncio, ouviu-se a voz
juntamente com Hil Moraes e Oswaldo Fernandes, onde foi feito uma rede de
radiotelegrafia, utilizando bobinas Ford, quando receberam em galenos,
resultados surpreendentes.
O Radio
Clube Cearense havia tomado um novo impulso e havia importado um
transmissor de 25 watts, de fabricação também francesa. Havia sido preparado um
estúdio em uma das dependências do prédio Phenix Caixeiral na Praça José de
Alencar, e foi organizado programas e festivais, como speakers.
Foram
construídos receptores de 3 válvulas, utilizando o esquema do circuito Sohnell.
Os diais eram confeccionados com velhos discos de gramofone, e as suas
engrenagens milimétricas com rede de relógios velhos!
Henrique
Soares era o técnico. O comércio local, interessado no “vírus” que atendera a
cidade, passou a importar o material, merecendo destaque a Casa Edson, que aqui
em Fortaleza era de propriedade do Sr. Machado. Dr. Elesbão Veloso, importou
dos Estados Unidos um “kit” completo, material de ótima qualidade.
Foi
construída numa boa marcenaria, uma caixa, pelo modelo americano.
Depois
de pronto e experimentado, foi posto em exposição na Livraria Americana, na
Praça do Ferreira como um cartão.
Reunidos
sempre na Phênix Caixeiral, a sociedade Rádio Clube Cearense com
um equipamento receptor, sintonizava também em ondas curtas a “Rádio Sociedade
do Rio de Janeiro” e, mesmo assim com um sinal de péssima qualidade.
Muitos
pesquisadores do Broadcasting desconhecem este capítulo. Foi esse o
pioneirismo do rádio no Ceará, que por falta de preservação dos equipamentos e
insensibilidade cultural, essa história quase que fora levado pelo vento de
1925, quando faltou interesse pela coisa.
Desejar
é melhor do que possuir. A posse é o prenuncio da morte do desejo.
Assis
Lima, pesquisador
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